11 de setembro de 2015

Bolo de chocolate e avelãs para uma profissão igual às outras :)

My friends and I, we've cracked the code.
We count our dollars on the train to the party.
And everyone who knows us knows,
That we're fine with this, we didn't come from money.

And we'll never be royals, it don't run in our blood.
That kind of lux just ain't for us, we crave a different kind of buzz.
Let me be your ruler, you can call me queen bee.
And baby I'll rule, let me live that fantasy.

Lorde




Há uns anos fui concorrente do Jogo Duplo. Na altura, uma das fases de pré-selecção envolvia uma entrevista conjunta com vários participantes, em que era proposto a cada concorrente que fizesse de conta que fazia algo mais impressionante do que a sua verdadeira profissão. O objectivo era conseguir manter a postura, e os melhores passariam à ronda seguinte.

Fiquei bloqueada. Afinal, o que poderia ser melhor do que ser estudante de medicina?


Para tentar fazer-vos compreender melhor isto, preciso de vos explicar o contexto em que entrámos na faculdade: um bando de miúdos inchados pela perspectiva de salvar vidas, com o peso dos dezanoves e vintes aos ombros, habituados a conseguirmos o que pretendíamos com o nosso esforço. Cruzando a porta da faculdade, era-nos dito que íamos ser bons, que íamos ser médicos, que íamos um dia ser admirados e respeitados pelos nossos doentes. E nós acreditávamos nisso. Porque precisávamos de acreditar nisso.

Nos três primeiros anos da faculdade, era o mantra 'ser médico é a melhor profissão do mundo' que repetíamos a nós próprios de forma exaustiva por entre as aulas teóricas aborrecidas, as aulas práticas frustrantes, o cansaço acumulado, o peso da pressão e as longas horas de leituras de livros grandes e pesados. E isso fazia-nos acreditar que um dia as coisas iam melhorar. Substancialmente, até. Porque um dia, íamos ter a melhor e mais importante profissão do mundo: ser médicos.

Olhando para trás, sinto uma mistura de pena e vergonha desta sensação tão grande de auto-importância. Mas voltemos ao Jogo Duplo.


Na altura, disse a única coisa que achei ser mais impressionante do que ser estudante de medicina: contei que era estudante de engenharia aeroespacial. Tive a sorte de nenhum dos outros concorrentes perceber um bacalhau de engenharia aeroespacial, consegui manter a minha história sem qualquer dificuldade e segui em frente. O resto da história já foi tema de alguns posts aqui pelo blog, por isso vou poupar-vos do relato do dia em que fui à televisão e jurei que tinha sido o primeiro e o último.

Hoje, já não acho que ser médico é a profissão mais importante do mundo. E por isso irritava-me quando as pessoas perguntavam ao meu irmão, também ele muito bom aluno, se ia 'para medicina como a mana', e ficavam vagamente desapontadas quando ele dizia que não, como se ele estivesse oficialmente a perder num qualquer jogo de 'qual dos irmãos escolhe o curso mais importante'.

E sabem o que é mais curioso? Na Segunda-feira, o meu irmão entrou oficialmente em engenharia aeroespacial.

O gajo vai tirar um curso que lhe permite ir trabalhar para a NASA. E eu encho-me de orgulho, choro que nem uma histérica e penso que, no fim, o meu irmão ganhou. Tal como eu sempre soube que ele faria.


No entanto, não pensem que é só em relação à faculdade que há quem ache existirem 'cursos de primeira e cursos de segunda'. Isso também acontece em relação à especialidade, e quando eu digo que estou em psiquiatria lá surgem novamente aqueles olhares desapontados, como se estivesse oficialmente a perder num qualquer jogo de 'quem é que escolheu a melhor especialidade'.

Já quando digo que o Pedro entrou em oftalmologia, vejo imediatamente as caras de 'uh lá lá temos aqui médico a sério, não é como esta tipa que deve ter um parafuso a menos'. E encolho os ombros. Há muito tempo que deixei de me preocupar com a importância que os outros dão ao que faço.


Por outro lado, e ao contrário do que acontece quando entramos no curso - possivelmente porque a maturidade é outra - nenhum dos colegas oftalmologistas do Pedro emana uma imagem de auto-importância. Na verdade, são todos uns fixes (pelo menos os que eu conheço). E por isso, decidi fazer um bolo para ele levar para o serviço. Eu não provei, mas reza a lenda que estava delicioso. 

Porque no fim, somos todos iguais: médicos, professores, lixeiros ou empregadas da limpeza, ninguém consegue resistir a um bolo guloso feito com carinho.


Bolo de chocolate e avelãs (receita adaptada da revista 'Saveurs Best Of 2014')

Ingredientes:

* 125g de chocolate negro;
* 125g de manteiga sem sal;
* 125g de avelã picada;
* Quatro ovos;
* 80g de açúcar;

Para a cobertura:
* 100g de chocolate negro;
* 100ml de natas;
* 20g de manteiga sem sal.

Confecção:

* Derreter o chocolate juntamente com a manteiga;

* Tostar a avelã picada numa frigideira;

* Bater as gemas com o açúcar e incorporar o chocolate e manteiga derretidos;

* Misturar a avelã picada e mexer suavemente;

* Incorporar cuidadosamente as claras batidas em castelo;

* Colocar numa forma untada e levar ao forno pré-aquecido a 180º durante trinta minutos;

* Para a cobertura juntar o chocolate negro, as natas e a manteiga e levar ao lume até ficar uma mistura homogénea;

* Cobrir o bolo e decorar com avelãs. 


Enquanto estava quente a cobertura ficou meia estranha (como podem ver, aliás, nas fotos, tiradas imediatamente depois de ter posto a cobertura no bolo), mas depois de solidificar ficou normalíssima e saborosa (segundo o Pedro, até porque eu nunca mais vi o bolo e não sobrou nem uma fatia para eu provar) :)

Tenham um óptimo fim-de-semana :D