10 de setembro de 2015

Banoffee (Tarte de banana e doce de leite) e a cronologia dos meus desmaios :)

I am a little bit of loneliness, a little bit of disregard,
Handful of complaints but I can't help the fact
That everyone can see these scars.

I am what I want you to want, what I want you to feel,
But it's like no matter what I do
I can't convince you to just believe this is real.

So I let go, watchin' you turn your back
Like you always do, face away and pretend that I'm not,
But I'll be here 'cause you're all that I got.

Linkin Park




A saga dos meus desmaios começou há uns três anos. Na altura fui doar sangue pela primeira vez, e depois senti-me tão bem que decidi ir às compras. Estava à espera que chegasse a minha vez no talho quando, sem que nada o fizesse prever, deixei de ouvir. Ainda sussurrei ao Pedro que não me estava a sentir bem, e caí literalmente para o lado.


O Pedro contou-me posteriormente que estive desmaiada durante uns dois minutos, durante os quais se instalou o pânico no talho. De facto, quando acordei havia toda uma azáfama à minha volta: desde o senhor do talho a dizer que de certeza que me senti mal com o cheiro da carne (apesar de eu insistir que tinha doado sangue há poucas horas) até ao indivíduo histérico que gritava que eu devia ficar deitada de lado, até ao médico super jeitoso que se prontificou a chamar a ambulância. No fim acabei por vir para casa com uma garrafa de água, um chocolate e um queijinho, cortesia do Continente.


Cerca de um ano depois, estava como ajudante numa cirurgia. Muito sinceramente já nem me recordo do que se tratava, mas sei que estava há horas a meter as mãos no intestino da doente, a segurar em material e a fazer força nos afastadores. A cirurgia nunca mais acabava. Os segundos passavam l-e-n-t-a-m-e-n-t-e no relógio do bloco operatório. Não comia ou bebia nada há imenso tempo. A dada altura lembro-me de ter pensado que ia cair para cima do intestino da doente, e caí literalmente para o lado (felizmente, não para cima do intestino da doente).


O Pedro contou-me posteriormente que estive desmaiada uns trinta segundos, durante os quais uma das enfermeiras se dedicou a levantar-me as pernas. No fim acabei por ir para a sala de pausa recuperar, beber um leitinho e choramingar pela vergonha que tinha passado.


Duas semanas depois, estava como ajudante numa pequena cirurgia para remoção de um gânglio. A cirurgiã principal abriu o gânglio e logo saiu lá de dentro uma gosma espessa e branca, que ela prontamente sugeriu ser necrose caseosa. Desta vez nem me lembro de ter pensado nada - simplesmente caí para cima do doente, que estava só com anestesia local e apanhou o maior susto da vida dele.


O Pedro contou-me posteriormente que estive desmaiada uns trinta segundos, durante os quais o doente tentou levantar-se para me ajudar e a minha orientadora tentou acalmar toda a gente. No fim acabei por ser convidada a fazer um teste de gravidez e a passar as restantes cirurgias do estágio bem sentadinha.

Passou um ano, e eu pensei que a saga dos desmaios tinha terminado.


Um dia, estava no centro de saúde a fazer consultas de puerpério. Estava doente, tinha dormido mal, estava cansada e morria de vontade de me atirar para a cama e só sair de lá três dias depois, mas a minha tutora precisava de mim e por isso vesti a minha camisola mais quentinha e meti mãos à obra. Entrou uma senhora com uma mastite, e a minha tutora aconselhou-a a espremer a mama até sair algum do leite acumulado. Chamámos a enfermeira e ali ficámos, a olhar para a senhora, que gemia com dores enquanto apertava a mamoca.

E depois a enfermeira disse o seguinte:

'É normal, o leite durante a mastite fica com essa consistência, como se fosse leite condensado.'


Lembro-me de ter pensado que ia desmaiar ou vomitar, e o meu cérebro optou pela primeira: caí redondinha no chão, e pelo caminho ainda bati com a cabeça na mesa. No fim ainda tive de convencer a minha tutora a deixar-me vir para casa, e acabei efectivamente por só sair da cama três dias depois - isto é, quando acabei de curar a pneumonia que entretanto o Pedro me diagnosticou.

Desde então, nunca mais desmaiei. E também nunca mais consegui olhar para o leite condensado da mesma forma.


Quando a Joana fez anos pediu-me para fazer uma sobremesa. Deixei-a seleccionar uma, e foi assim que acabei de fazer a tarte que corresponde à antítese do que eu, assumida devoradora de coisas ácidas e frutadas, aprecio: uma tarte banoffee, com banana, doce de leite e cacau.

No fim, o resultado surpreendeu-me. Não nego que é uma tarte forte e intensa, mas também é uma tarte deliciosamente equilibrada, com o toque de banana e do doce de leite por entre as colheradas de chantilly.

E foi assim que fiz finalmente as pazes com o leite condensado.


Banoffee (Tarte de banana e doce de leite) (receita adaptada da revista Saveurs Especial Sobremesas)

Ingredientes:

* 130g de manteiga sem sal;
* 150g de bolachas de manteiga;
* Quatro bananas;
* Uma lata de leite condensado cozido;
* 400ml de natas bem frias;
* 200g de queijo mascarpone;
* 50g de açúcar em pó;
* Cacau em pó q.b.

Confecção:

* Derreter a manteiga no microondas;

* Picar finamente as bolachas e juntar a manteiga, misturando até formar uma massa;

* Colocar a massa numa forma para tartes com o fundo amovível e amassar bem;

* Reservar no frio durante quinze minutos;

* Cobrir com as rodelas de banana e com o leite condensado cozido e levar novamente ao frigorífico durante mais quinze minutos;

* Bater as natas em chantilly bem firme;

* Juntar 25g de açúcar em pó e continuar a bater;

* Misturar o mascarpone com o açúcar em pó restante e envolver cuidadosamente no chantilly;

* Cobrir a tarte com o creme de chantilly e levar ao frigorífico durante pelo menos uma hora;

* Polvilhar com cacau antes de servir.




Até amanhã! :D