10 de julho de 2015

Nutella paleo (sem açúcar). E as críticas.

When you were here before, couldn't look you in the eye.
You're just like an angel, your skin makes me cry.
You float like a feather in a beautiful world,
And I wish I was special, you're so fuckin' special.

But I'm a creep, I'm a weirdo,
What the hell am I doing here?
I don't belong here.

I don't care if it hurts, I want to have control.
I want a perfect body, I want a perfect soul.
I want you to notice, when I'm not around.
You're so fuckin' special, I wish I was special.

But I'm a creep, I'm a weirdo,
What the hell am I doing here?
I don't belong here.

Radiohead




Há algumas semanas, a Sónia Morais Santos publicou no seu blog um texto brilhante sobre as críticas que recebe e que chamou de 'A Puta'. E confesso-vos que me identifiquei imenso com aquilo que ela escreveu.

De facto, abrir a porta da nossa vida (não só na blogosfera, mas em todo o lado) faz com que deixemos entrar as pessoas. As pessoas boas, carinhosas, simpáticas e honestas, mas também as pessoas poucochinhas, mal resolvidas, idiotas e frustradas.

E, por isso, independentemente do que fizermos, seremos sempre 'a puta' para alguém.


Se mostro um fim-de-semana em que cozinhei muito, vivo como uma velha fechada em casa. Se mostro um fim-de-semana em que passeei muito, sou certamente uma interna de merda porque devia ter estado a estudar. Se digo que estudei, sou uma seca e não sei aproveitar a vida. Se digo que não estudei, sou uma irresponsável e Deus queira que nenhum dos filhos da dita comentadora me venha parar às mãos (embora eu arrisque que com exemplos parentais deste calibre não irá faltar muito para os meninos baterem com os lombinhos na minha consulta).


Se digo que vou viajar, sou milionária porque certamente só quem recebe heranças é que pode viajar e devia usar o meu dinheiro em algo construtivo (o leitor não deu exemplos concretos, por isso ainda fico acordada à noite a pensar em formas mais construtivas de gastar o que trabalhei para ganhar). Se passo duas semanas de férias em casa porque estou a poupar para o meu casamento, não estou a aproveitar a minha juventude e sou uma forreta. Se mostro fotos das minhas viagens, sou uma armada - e além disso hoje em dia toda a gente viaja e mostrar fotos das minhas viagens é apenas pedinchar atenção. Se não mostro fotos das minhas viagens, sou uma nojentinha com a mania que sou importante.


Se não fiquei a vomitar na calçada na minha despedida de solteira, eu e as minhas amigas somos uma grande seca e só faltou termos ido todas à missa. Se fiquei com os copos noutras situações, sou mais um péssimo exemplo de como a malta de hoje precisa de álcool para se divertir. Enquanto não casámos, vivia no pecado e qualquer dia era trocada por outra. Quando decidimos casar, somos ricos porque de certeza que os papás vão pagar tudo, e caretas porque já ninguém casa hoje em dia. Se digo que sou pouco carinhosa, então é melhor ter cuidado porque qualquer dia o Pedro troca-me por alguém que não o entupa de comida mas sim de afecto. Se falo bem do Pedro, então sou uma melosa e os homens gostam é de mulheres que dêem luta.


Se mostro as fotos da minha comida, há sempre quem ache que como muito ou como pouco. Que sou obcecada com a alimentação saudável e que só como porcarias. Que tenho a mania das comidas caseiras e que como demasiados produtos artificiais. Que isto das comidas sem glúten já cansa e que publico demasiadas receitas doces. 

Se não me queixo da minha vida, é certamente porque nasci com o rabinho bem virado para a lua. Se me queixo, devia era estar calada porque sou médica, casada e milionária.


Se digo que não acredito no céu, é porque certamente nunca me vi confrontada com a morte e por isso não posso falar do que não sei. Se digo que já pensei que ia morrer em duas situações passadas, então sou uma puta porque a leitora já pensou que ia morrer mas com uma doença a sério, como o cancro, e por isso pensar que se vai morrer porque um avião começa a perder altitude no meio das montanhas é coisa de meninas choronas.


Se digo que gosto do Natal e de vaquinhas, sou uma imatura e devia esperar uns vinte anos antes de ter filhos. Se digo que gosto de ver filmes e séries com tigelas de pipocas caseiras, sou uma velha aborrecida a desperdiçar os melhores anos da minha vida. Se falo dos meus projectos, sou demasiado nova para concretizar coisas tão ambiciosas. Se conto as pequenas vitórias do dia-a-dia, então devia ter objectivos mais audaciosos em vez de querer ser simplesmente uma dona de casa.


Se publico uma receita de um doce decadente, estou a fomentar a obesidade e as doenças cardiovasculares. Se publico uma receita de nutella sem açúcar, então estou a fomentar a obesidade e as doenças cardiovasculares na mesma, até porque as avelãs são calóricas e o mel também tem açúcar.

E, no meio disto tudo, seremos sempre a puta para alguém. Mesmo que seja alguém poucochinho. Bem, não podemos agradar a todos certo? Afinal, não somos nenhuma embalagem de Nutella :)


Nutella paleo (sem açúcar) (receita adaptada do blog 'Chocolate-Covered Katie')

Ingredientes (para um copo):

* 80g de avelãs;
* Uma colher de chá de essência de baunilha natural;
* Uma colher de sopa de cacau em pó;
* Duas colheres de sopa de xarope de seiva de ácer;
* Uma pitada de sal;
* 40ml de leite de amêndoa (três colheres de sopa).

Confecção:

* Levar as avelãs ao forno durante quinze minutos e esfregar com um pano para retirar a pele;

* Picar durante cinco minutos até se formar manteiga de avelã;

* Juntar os ingredientes restantes e passar tudo novamente até obter um creme suave;

* Conservar no frigorífico. 

Tenham um óptimo fim-de-semana! :D