27 de novembro de 2014

Crepes de Nutella e coco para a epifania que salvou a minha vida.

I'll spread my wings and I'll learn how to fly.
I'll do what it takes, 'till I touch the sky I'll.
Make a wish, take a chance,
Make a change, and breakaway.

Kelly Clarkson


Já referi algumas vezes e de forma muito en passant que sofri durante algum tempo de um distúrbio alimentar. Não é algo que pretenda explorar aqui, mas também não é propriamente um segredo e não tenho grandes problemas em falar disso (o que não quer dizer que adore, mas enfim).

A história de hoje passa-se nessa altura.


Estava já no meu caminho de regresso a mim própria. A teoria estava consolidada e a prática ia sendo aplicada um bocadinho a medo. O controlo ainda era o meu calcanhar de Aquiles, mas estava naquele momento a passos de gigante da Joana maluquinha do passado. E fui a Paris.


Um dia fomos comer um crepe e eu vi-me perante uma indecisão épica e extraordinariamente difícil: pedia um crepe de Nutella, ou pedia um crepe de coco? A resposta chegou até mim de uma maneira de tal forma brusca que passei a compreender os profetas do passado com as suas visões e epifanias religiosas - eu podia pedir um crepe de Nutella E coco.


É claro que por mim tinham já passado meses de acompanhamento, de lutas diárias contra a balança e a comida e de grandes avanços e pequenos recuos. É claro que não foi um crepe de me curou, mas sim uma combinação infalível de força, capacidade de encaixe, apoio de quem me rodeava e muito amor (próprio e dos outros). Mas aquela epifania foi fulcral porque marcou o dia em que eu voltei a ser oficialmente feliz.


Pedi um crepe de Nutella e coco. Porque não só podia, mas devia. Porque tinha literalmente ordem médica para recuperar peso e ser feliz. Porque ser saudável implicava comer - independentemente de optar por fazê-lo com gulodices. Porque estava cansada de estar doente e farta de perder o controlo de mim para uma doença idiota.

E sabem que mais? Ganhei.


Há uma sensação de invencibilidade que fica dentro de toda a gente que vence uma doença mais grave. Uma espécie de felicidade intrínseca que nos faz recordar, mesmo (e talvez até especialmente) nos dias piores, onde já estivemos no passado e o quanto lutámos para estar aqui agora. Uma espécie de auto-gratidão pelo quanto fomos fortes quando foi preciso: porque acreditem, todas as curas são também um processo de resolução interior.

Há quem decida agradecer das formas mais variadas. Eu faço questão de comer um crepe de Nutella e coco sempre que vou a Paris. E, tal como daquela vez, também digo com um grande sorriso maroto:

- 'Mas com moooooooooooontes de Nutella!'.

 

Um dia o relato da minha epifania foi a epifania de alguém. Nesse dia eu ajudei uma desconhecida (que não demorou a tornar-se amiga) a curar-se e soube que era isso que queria fazer para o resto da minha vida. Sei que desse lado há outras pessoas a passar pelo mesmo, e desejo do fundo da minha alma que a vossa epifania chegue em breve.

Porque toda a gente merece ser feliz. Porque toda a gente merece recuperar o controlo sobre a sua saúde. Porque toda a gente merece crepes degradantes só porque sim.

Porque toda a gente merece sentir-se invencível.

 

Crepes de Nutella e coco

Ingredientes (para quatro crepes):

* 90ml de leite;
* 90ml de água;
* Uma gema de ovo;
* Uma colher de sopa de açúcar;
* Meia chávena de farinha;
* Duas colheres de sopa de manteiga derretida;
* Nutella q.b.;
* Coco ralado q.b.

Confecção:

* Juntar todos os ingredientes pela ordem acima e bater bem com a batedeira;

* Levar ao frigorífico durante pelo menos duas horas (ou durante a noite);

* Aquecer a máquina de fazer crepes e colocar uma concha da massa, usando a espátula para espalhar bem (se usarem uma frigideira simplesmente inclinem para os lados para que a massa se espalhe);

* Esperar cerca de um minuto e virar o crepe com cuidado;

* Deixar cozinhar do lado oposto, retirar e repetir até acabar a massa;

* Servir com a Nutella e o coco;

* Curar-se de doenças.
 

Até amanhã :D