21 de outubro de 2014

Paleo para totós... Por Francisco Silva (Guest Post)

Em primeiro lugar, devo dizer que ainda não percebi exatamente porque é que a Joana me convidou a escrever aqui neste espaço. Na verdade não sou especialista de nada, não sou nutricionista nem médico, não sou chef de cozinha nem blogger. Também por isso, peço desde já desculpa se cometer, durante este texto, alguma imprecisão medico-científica, mas estou ainda a aprender.

Há cerca de dez meses fiz a 'Dieta dos 31 dias' e perdi oito quilos. Nessa altura percebi rapidamente que não é boa ideia focar a nossa atenção apenas na perda de peso - se não há resultados imediatos (e estes são difíceis de conseguir) o mais certo é desanimar e desistir. O objetivo principal tem que ser melhorar a nossa saúde e qualidade de vida.


Estando já numa fase de manutenção de peso, e aproveitando para conhecer melhor o meu organismo e criar novas rotinas e hábitos, fui-me cruzando com adeptos de várias dietas até alguém me falar numa que parecia coisa de malucos: a ‘dieta do Paleolítico’.

O mais curioso é que aquilo que esta dieta dizia para eu comer era basicamente aquilo que os médicos sempre me disseram para não comer. Sendo eu um homem de ciência, resolvi que a coisa merecia alguma investigação e comecei a pesquisar estudos, documentários e entrevistas, acabando por reunir alguns argumentos que considero válidos:

1. Se esta é mais uma dieta da moda, é uma moda com 2 milhões de anos, pois foi responsável por grande parte da evolução humana (a mais significativa).

2. A relação entre o consumo de gorduras animais e o aumento do colesterol tem sido posta em causa em vários artigos mais recentes, bem como a relação destes com o aumento das doenças cardiovasculares (O Pedro irá explorar esta parte quando vos falar das bases científicas da alimentação paleo).

3. Nas últimas décadas assistimos a um aumento do consumo de hidratos de carbono, bem como  à subida drástica dos casos de diabetes mellitus e de doenças auto-imunes.


Enfim, deparei-me com imensos argumentos (e quase todos os dias vão surgindo mais). Em particular, destaco um livro que me marcou bastante: ‘Cérebro de farinha’. Fala sobre a relação entre o consumo de certos alimentos comuns no nosso regime alimentar e as doenças do foro neurológico como o Alzheimer. Tendo eu história desta doença na família (na minha avó) estava alertado para esta questão e senti-me, também por isso, motivado para aprender mais.


Vamos então detalhar o estilo ‘paleo’. Baseia-se num aumento do consumo de gorduras e uma diminuição do consumo de hidratos de carbono, aproximando-se da dieta dos nossos antepassados - rica em carnes, peixes, legumes e frutos. O objetivo é reduzir os ‘maus’ hidratos de carbono e ingerir os ‘bons’, com fibras, que atrasam a transformação em açúcar e não causam picos de insulina. Não é absolutamente necessário comer de três em três horas, embora o objetivo não seja de todo passar fome. Implica comer comida de verdade, pelo que há que evitar alimentos processados, embalados e com aditivos nas mais variadas formas.

Notem que uso a palavra evitar e não abolir, erradicar ou algo parecido. Não vejo o paleo como um regime alimentar rígido porque não acho que deva ser, embora haja quem defenda que sim. Na minha maneira de entender este modo de vida, há espaço para derivados de leite (porque não me dou mal com eles e reconheço os seus benefícios para a saúde), é possível comer um arroz ou uma massada se um amigo nosso nos convidar e for esse o prato determinado… Ou seja há espaço para errar, mas de forma consciente.


Enfim, as bases da ideia estão lançadas e cada um pode decidir aprofundar mais esta questão se estiver interessado. Pela minha parte apenas tenho a dizer que nesta ainda curta experiência me sinto muito bem, o meu peso continua controlado, e apesar de ter cortado a maioria dos hidratos de carbono que consumia antigamente (bolachas, barras e cereais, massas, bolos, pastéis) não me sinto fraco ou sem energia (inclusivamente quando pratico desporto).


Para ficarem com uma ideia mais concreta, deixo uma lista de alimentos que são considerados admissíveis neste plano alimentar (podem encontrar-se várias listas na internet):

Vegetais: de preferência orgânicos, como espinafres, couves,  brócolos, espargos, pimentos, quiabo, abóbora, courgette, couve-flor, alface, pepino, salsa, cebola, tomate e alho, entre outros.

Cogumelos: todos!.

Frutos secos: caju, amêndoa, castanha do pará, avelã, noz, pinhão, pistachio e muito coco. Quase todos podem transformar-se em farinha.

Sementes: sementes de girassol, chia, linhaça e abóbora.

Fruta: todas as frutas frescas e não processadas. Há correntes que aconselham o consumo moderado de frutas como a banana ou a maçã, mas eu pessoalmente não corto nenhuma fruta.

Cereais e leguminosas: arroz, feijão, lentilhas e quinoa podem consumir-se com moderação, bem como os amendoins (que são uma leguminosa e não um fruto seco). Aveia integral, de preferência sem glúten, com moderação.

Carne e peixe: tudo! Se pudermos saber a origem da carne melhor: gado alimentado em pasto é o ideal, pois a carne tem mais ómega-3, ácidos gordos, vitamina E e ácido linoleico. De igual modo para o peixe.

Leite e derivados: laticínios integrais e sem açúcar como leite, queijo, requeijão, nata... Usar sempre manteiga de boa qualidade. Para quem tem intolerância à lactose o leite de coco ou de amêndoa são boas opções! Evitar o leite de soja.

Óleos: óleo de coco, azeite, óleos de frutas e óleos de nozes. O ideal é cozinhar apenas com azeite, óleo de coco, manteiga ou banha.

Ovos: um super alimento! Preferir os ovos orgânicos.

Bebidas: café, infusão de frutas, bebidas alcoólicas destiladas (desde que não tenham açúcar, como vodka, cachaça ou gin). Vinhos com moderação, bem como água de coco. Evitar a cerveja.

Farinhas: farinha de amêndoa, de coco, de linhaça e de castanha de caju vão substituir as outras farinhas. Além de serem muito saborosas, estas farinhas têm um alto teor de fibra e são muito nutritivas.

Adoçantes: os adoçantes permitidos são os adoçantes à base de stevia (planta) e o mel.

Evitar: 

Em regra, comida processada está fora do cardápio. Comida processada é fácil de identificar: vem em embalagens, tem conservantes, tem produtos químicos adicionados, tem coisas cujo nome custa até a pronunciar e tem longa duração fora do frigorífico.

* Grãos como o trigo, o milho, a soja e a cevada;
* Gorduras vegetais como o óleo de milho, de girassol ou de soja;
* Molhos como o molho de soja;
* Pão, massas, bolachas e biscoitos, bolos;
* Refrigerantes;
* Sumos.


Francisco Silva tem 39 anos, é licenciado em Geologia Aplicada e do Ambiente e trabalha atualmente na área do acompanhamento e gestão de resíduos urbanos. Além do tempo que habitualmente dedica às redes sociais, gosta muito de fotografia e recentemente desenvolveu este interesse pela alimentação e estilos de vida saudáveis.