8 de agosto de 2013

Arroz de polvo e a preparação para a vida! :)

I've been a puppet, a pauper, a pirate, a poet, a pawn and a king. 
I've been up and down and over and out, but I know one thing: 
Each time I find myself flat on my face, 
I pick myself up and get back in the race.

Frank Sinatra


Há duas semanas mostrei-vos uma receita muito simples de bifes de frango grelhados com presunto e contei que quando fui viver sozinha nunca tinha cozinhado, nunca tinha lavado a minha roupa ou passado a ferro, nunca tinha lavado uma casa-de-banho e nunca tinha estado dependente apenas de mim própria.

Nesse dia recebi um comentário que dizia algo do género: 

'Com 18 anos estavas tão mal preparada para a vida...' 

Na altura confesso que o comentário me arrancou um sorriso, e nos dias seguintes dediquei-me a pensar um pouco nisso: afinal, o que é estar preparada para a vida?


Quando eu era adolescente não tinha qualquer interesse em cozinhar (ou em fazer qualquer espécie de actividade doméstica, diga-se). Na altura a minha mãe e a minha avó franziam o sobrolho, abanavam a cabeça de reprovação, suspiravam de exasperação e rematavam com a célebre frase 'coitado do homem que te levar!'.

Quando precisei de me virar sozinha arregacei as mangas e meti mãos à obra. Aprendi a cozinhar, aprendi a lavar roupa na máquina, aprendi a lavar roupa à mão, aprendi a passar a ferro, percebi quais eram os melhores produtos para lavar a casa-de-banho e percebi a salvação que é ter um espanador Swiffer. Não morri de fome, não morri de sede e não fiquei soterrada sobre uma enorme quantidade de pó ou de roupa suja. 


Hoje acho que o homem que efectivamente me levou teve muita sorte. Hoje acho que somos capazes de tudo se nos esforçarmos nesse sentido. Hoje acho que cozinhar/limpar/arrumar/lavar não são tarefas que temos invariavelmente de dominar para sermos adultos, independentes ou desejáveis. Hoje acho que estar preparado para a vida é altamente sobrevalorizado. 


Antes dos meus 18 anos eu apaixonei-me pela primeira vez, tive o meu primeiro amor, dei o meu primeiro beijo, vi morrer alguém que amava muito, fui muito feliz, quis desaparecer da face da Terra, fiz acampamentos com as minhas amigas, fiz coisas às escondidas dos meus pais, vi o nascer do sol na Amazónia, andei à porrada com o meu irmão e tirei dinheiro do meu mealheiro às escondidas para comprar gomas e canetas com cores e cheirinhos. 

E garanto-vos, isso preparou-me muito mais para a vida do que saber limpar uma casa de banho. Porque isso fez-me crescer, fez-me dar valor às pequenas coisas e fez-me perceber que em última análise nós somos os únicos responsáveis pelas consequências dos erros que cometemos.

Isso não é estar preparado para a vida? :)


Arroz de polvo do meu pai 

Ingredientes (para quatro pessoas):

* 1.4kg de polvo congelado;
* Quatro dentes de alho;
* Duas colheres de chá de mistura de especiarias para paella; 
* Dois tomates;
* Salsa picada q.b.;
* Dois cravinhos-da-índia;
* Duas rodelas de salpicão cortadas em cubos;
* Oito colheres de sopa de arroz (cru).

Confecção: 

* Cozer o polvo com os cravinhos-da-índia; 

* À parte triturar os dentes de alho com os tomates e a salsa picada;

* Retirar os cravinhos-da-índia e reservar a água da cozedura do polvo; 

* Transferir o polvo para uma frigideira de paella;

* Juntar a pasta de tomate e temperar com a mistura de paella;

* Misturar o arroz e os cubos de salpicão e deixar cozinhar, juntando a água da cozedura do polvo aos poucos. 


Este é um prato muito simples, mas que eu ainda não tinha aprendido a fazer. Agora que já tenho a receita deliciosa do meu pai aqui guardada vou certamente repeti-la mais vezes :D 

Até amanhã :D