27 de abril de 2013

Peito de frango picado com molho inglês e mostarda e a minha paixão por Álvaro de Campos :D

A minha alma partiu-se como um vaso vazio.
Caiu pela escada excessivamente abaixo.
Caiu das mãos da criada descuidada, caiu.
 E eu fiz-me em mais pedaços que a loiça que havia no vaso.

Margarida Pinto (Álvaro de Campos)


Quando eu andava no 12º ano descobri Fernando Pessoa, e com ele os seus heterónimos. 

Na altura julgava que sabia tudo, e no entanto sentia simultaneamente uma certa insatisfação, como se a vida não fosse bem como a tinha imaginado quando era criança. E era esse vazio que sentia preenchido quando lia Álvaro de Campos. 

Afinal, a melhor maneira de viajar é sentir.
Sentir tudo de todas as maneiras.
Sentir tudo excessivamente,
Porque todas as coisas são, em verdade, excessivas.
E toda a realidade é um excesso, uma violência,
Uma alucinação extraordinariamente nítida. 


Começo a conhecer-me. Não existo.
Sou o intervalo entre o que desejo ser e os outros me fizeram,
Ou metade desse intervalo, porque também há vida...
Sou isso, enfim...
Apague a luz, feche a porta e deixe de ter barulhos de chinelos no corredor.
Fique eu no quarto só com o grande sossego de mim mesmo.
É um universo barato.


Há uns dias encontrei o livro e voltei a lê-lo de uma ponta à outra. E foi impossível não voltar atrás no tempo e ser por uns momentos aquela adolescente incompreendida e confusa que achava que ler Álvaro de Campos era tremendamente intelectual. 

Nunca tive o mínimo jeito para ser fixe. 

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo,
Nunca teve um acto ridículo, nunca sofreu um enxovalho,
Nunca foi senão princípe - todos eles princípes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana,
Quem confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Quem contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?


Cresci. Já não me sinto incompreendida, mas às vezes ainda me sinto confusa. Já não leio tanto como gostaria. Mas continuo a sonhar muito, e continuo a guardar em mim a inconformidade que me fez apaixonar por Álvaro de Campos. 

Continuo a ter em mim todos os sonhos do mundo.  

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Qual é a relação entre Álvaro de Campos e um prato tão simples de carne? 

Ambos me ajudaram num dia em que me sentia inconformada. Ambos me ajudaram a combater a sensação de vazio que por vezes me domina, sem grande razão para tal. Ambos me fizeram sentir melhor. 

Ambos me fizeram feliz

Tenho uma grande constipação,
E toda a gente sabe como as grandes constipações
Alteram todo o sistema do universo,
Zangam-nos contra a vida,
E fazem espirrar até à metafísica.

 

Peito de frango picado com molho inglês e mostarda

Ingredientes (para quatro pessoas):

* 500g de peito de frango picado (peço para picarem no talho, mas podem picar em casa);
* Uma cebola picada;
* Três dentes de alho picados; 
* Um fio de azeite; 
* Uma colher de chá de orégãos; 
* Uma colher de chá de manjericão; 
* Uma colher de chá de especiarias italianas; 
* Uma colher de chá de pimentão-doce; 
* Uma colher de chá de paprika; 
* Uma pitada de sal; 
* Uma pitada de piri-piri; 
* Quatro colheres de sopa de molho inglês
* Duas colheres de sopa de mostarda. 

Confecção: 

* Refogar a cebola e o alho num fio de azeite; 

* Juntar a carne picada e temperar com os orégãos, o manjericão, as especiarias italianas, o pimentão-doce, a paprika, o sal e o piri-piri; 

* Deixar cozer um pouco e juntar o molho inglês e a mostarda; 

* Deixar cozinhar.


Esta é uma receita muito simples, mas tem aquele toque de conforto e de comida da avó que anima até os dias mais cinzentos. Além disso fica fica deliciosamente saborosa :

Tenham um óptimo fim-de-semana :D